TRADIÇÃO
Uma das festas mais tradicionais do Nordeste, o Reisado se renova no Ceará. Exemplo do retorno às origens é o ‘‘Reisado Brincante Cordão do Coroá’’, do programa de Extensão da Universidade Federal do Ceará (UFC), que, na última segunda-feira, mexeu com o imaginário popular numa apresentação pelas ruas do Bairro do Benfica, devolvendo uma magia que às vezes parece desaparecer com o tempo.
O grupo iniciou a apresentação no pátio do Centro de Humanidades da UFC, onde foi celebrada uma homenagem aos reis magos, que, na tradição bíblica, traduz a chegada do menino Jesus à Terra.
Para a estudante do curso de Letras da UFC, Cláudia Veras, acreditar na permanência dessa cultura secular é fundamental para mantê-la presente na vida da comunidade. ‘‘Sempre me interessei pela cultura popular e quando o grupo surgiu em 2003 decidi fazer parte’’, contou.
No Interior do Estado, a dança dramática também continua viva. No município de Ocara, a 97 quilômetros de Fortaleza, ocorreu, esta semana, campeonatos de reisados, lapinhas e pastoris.
O pesquisador de teatro e jornalista Oswald Barroso, esteve nas festividades e comprovou que o reisado, mais do que nunca, continua uma realidade cultural viva e expressiva.
Em Ocara, está sendo planejada a construção do Memorial do Pedro Boca Rica, em homenagem ao tocador que morreu em 1991, e que já virou nome de praça e teatro. O pesquisador fotografou, documentou espetáculos e entrevistou integrantes de 60 grupos de reisado, principalmente o grupo de Careta, mais conhecido por grupo de Couro, com atuação na Região do Sertão do Ceará.
MEMÓRIA — Em visita a 80 municípios cearenses, Oswald também pode registrar a presença de elementos milenares na cultura do sertanejo, muitos deles vindos do período anterior à Idade Média. ‘‘Há uma variedade enorme na cultura cearense, uma riqueza que vem do imaginário coletivo predominantemente caboclo’’, diz Oswald.
Autor da dissertação de mestrado ‘‘Teatro como Desencantamento e Boi Reisado de Caretas’’, o pesquisador ainda observa os vários elementos orientais e de várias culturas que transitam pela tradição nordestina. É o que acontece, explica Oswald, com a introdução de personagens como a ‘‘Emília’’, o ‘‘Chupa-cabra’’ e a ‘‘Perna cabeluda’’.